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Em Encontro com Prefeitos Papa Pede que Adotem Visão da "Periferia ao Centro"

em 28/07/2015 | 00h00min

Em Encontro com Prefeitos Papa Pede que Adotem Visão da "Periferia ao Centro"

O papa Francisco recebeu no dia 21 de julho, no Vaticano, cerca de 70 prefeitos de várias cidades do mundo e pediu que as autoridades tenham consciência do problema da destruição do planeta que está sendo levado adiante por todos os homens. 

Os prefeitos de Belo Horizonte, Márcio Lacerda; de São Paulo, Fernando Haddad; do Rio de Janeiro, Eduardo Paes; de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto; de Curitiba, Gustavo Fruet; e de Porto Alegre, José Fortunati, participaram do evento, promovido pela Academia Pontifícia das Ciências e das Ciências Sociais, que debateu, além dos problemas climáticos, os temas da escravidão e do tráfico de pessoas.

O Papa encerrou o dia reafirmando que “O trabalho mais sério e mais profundo se faz da periferia até o centro. Se o trabalho não vem das periferias até o centro, não tem efeito”, arrebatou Francisco ao dizer que aí está a responsabilidade dos prefeitos e o motivo pelo qual eles participam dos debates promovidos pela Pontifícia Academia das Ciências.

Mudanças climáticas:

Francisco pôde mais uma vez falar ao mundo sobre suas expectativas para que a Comunidade internacional chegue a um consenso e produza um documento final com propostas concretas ao final da cúpula sobre o clima, marcada para novembro, em Paris.

“Tenho muita esperança, todavia as Nações Unidas precisam se interessar mais fortemente sobre este fenômeno, sobretudo o do tráfico de seres humanos provocado por este fenômeno ambiental, a exploração das pessoas”, esclareceu o Pontífice.

Desenvolvimento integral:

O Papa voltou a confirmar que a encíclica Laudato si não é apenas um documento verde, mas uma “encíclica social”, e explicou:

“Porque dentro do entorno social, da vida social dos homens, não podemos separar o cuidado com o ambiente. Mais ainda, o cuidado do ambiente é uma atitude social, que nos socializa em um sentido ou em outro – cada qual pode colocar o valor que quiser – e, por outro lado, nos faz receber. Gosto da expressão em italiano para o ambiente – creato –, daquilo que nos foi dado como um presente, ou seja, o ambiente”.

Crescimento desenfreado:

Ao afirmar que o inchaço das grandes cidades é provocado pelas consequências de um modelo de desenvolvimento tecnocrático de exclusão, no qual as pessoas no campo migram aos centro urbanos por não terem mais acesso à terra, o Papa disse que o crescimento desmesurado das cidades está ligado à maneira como se cuida do ambiente.

“É um fenômeno mundial. As grandes cidades se fazem ainda maiores com também cada vez maiores bolsões de pobreza e miséria onde as pessoas sofrem as consequências das negligencias para com o meio ambiente”, conclui Francisco.


Os prefeitos brasileiros entregaram ao papa uma carta.

Leia a carta na íntegra:

“Declaração dos prefeitos brasileiros:

A dificuldade na construção de um acordo internacional entre os chefes de Estado que contemple diretrizes mais audaciosas e efetivas no enfrentamento às mudanças climáticas já tem reflexos na piora da qualidade de vida das pessoas, em especial dos mais pobres. Essa situação coloca em risco os avanços conquistados no enfrentamento da miséria e das desigualdades nas ultimas décadas, refletindo-se no dia-a-dia das cidades que governamos.

Em sintonia com a Encíclica “Laudato Si”, reconhecemos a urgência de atender as necessidades dos mais pobres. Para enfrentar esse injusto cenário de desigualdades os 5.570 prefeitos brasileiros estão empreendendo esforços para que os excluídos possam superar a situação de vulnerabilidade.  São políticas públicas estratégicas de inclusão social abrangendo educação, saúde, habitação, saneamento, transporte público, geração de renda, emprego, empreendedorismo e cooperativismo.

Reconhecemos também a responsabilidade dos governos locais em contribuir com a reversão da atual crise climática global. Há prefeitos brasileiros adotando metas para desatrelar o desenvolvimento das cidades do aumento de emissões de Gases de Efeito Estufa em seus territórios e nos padrões de produção e consumo. E, sabendo que esses esforços iniciais ainda são insuficientes, trabalharemos para incorporar a visão do desenvolvimento urbano de baixo carbono e resiliente às mudanças climáticas nos planejamentos das cidades brasileiras.

Cientes de que as mudanças climáticas são um desafio global, pleiteamos que os governos nacionais, e em especial o governo brasileiro, envide esforços na construção de acordos na cúpula do clima em Paris no final deste ano (COP21) que mantenham o aquecimento global induzido pelo homem abaixo de 2ºC, e tenham como objetivo avançar para níveis mais seguros.

Globalmente, como estratégia para enfrentar esse cenário desastroso, propomos a transferência de recursos e tecnologias dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, em especial aos mais pobres, e diretamente às cidades, visto que os primeiros são os que historicamente mais consomem recursos naturais e contribuem para o agravamento das mudanças climáticas.

Diante disso, reivindicamos ainda o reconhecimento, pela Organização das Nações Unidas (ONU), dos governos locais como atores fundamentais na promoção da sustentabilidade global e do desenvolvimento humano.

Roma, 20 de Julho de 2015.

Marcio Lacerda – Prefeito de Belo Horizonte (MG) e Presidente da FNP

Fernando Haddad – Prefeito de São Paulo (SP)

Eduardo Paes – Prefeito do Rio de Janeiro (RJ)

ACM Neto – Prefeito de Salvador (BA)

Gustavo Fruet – Prefeito de Curitiba (PR)

José Fortunati - Porto Alegre (RS)

Paulo Garcia – Prefeito de Goiânia (GO)”

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Fonte: Redação