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Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida

em 27/02/2017 | 00h00min

Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida

Quando Pero Vaz de Caminha chegou à costa do território brasileiro, maravilhou-se com tudo o que viu. Descreveu minuciosamente os indígenas, a flora, a fauna e as águas que tinha diante dos olhos. Estava de tal forma maravilhado que, ao final da carta, escreveu literalmente ao rei de Portugal: “Águas são muitas: infinitas. Em tal maneira graciosa [a terra] que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”

Alguns anos mais tarde, após a chegada dos colonizadores, começa a ocupação e exploração do paraíso descrito por Pero Vaz de Caminha. A princípio no litoral. E começa a extração do pau-brasil, a árvore mais abundante que encontraram naquela imensa floresta, cuja tintura extraída era levada para a Europa. A madeira também era utilizada para fabricar móveis e instrumentos musicais. Para realizar esse trabalho, começa a exploração e escravização das nações indígenas, o sequestro de seus territórios, as dizimações por guerras e doenças. Depois vieram os negros, também na linha da mão de obra escrava.

Com o caminhar da história, começa o avanço para o interior do nosso imenso território, seja pelo sul do país, pelo Pampa, seja pelos leitos de diversos rios. Então, aventureiros, bandeirantes e outros conquistadores interiorizaram o Brasil. Mais tarde o próprio Imperador chamou cientistas para decifrarem o que se tinha diante dos olhos. Percebeu-se que esse território tem imensa variedade de formas de vida, de florestas, de animais e de povos.

Em tempos mais recentes são delimitados e descritos os chamados biomas brasileiros, com suas interfaces e ligações, mas guardando características próprias de cada um. A expressão bioma vem de “bio”, quem em grego quer dizer “vida” e “orna”, sufixo também grego que quer dizer “massa” grupo ou estrutura de vida”. Um bioma é “um conjunto de vida (animal e vegetal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria”.

Assim, um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum. Por isso, a diversidade biológica também é parecida. Há teses de sete e até oito biomas, considerando os manguezais como um deles e outro marinho, mas esse não é o reconhecimento oficial. No Brasil temos seis biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa. Nesses biomas vivem pessoas, povos, resultantes da imensa miscigenação brasileira.

Hoje, mais de 5OO anos depois da chegada dos colonizadores, seria interessante nos perguntar: O que restou daquela floresta? O que restou daqueles povos? O que restou daquelas águas? O que restou daquela imensa biodiversidade que maravilhava os olhos? O ambiente que vivemos interessa a todos os seres humanos, independentemente de sua religião, credo, ou mesmo sem nenhum deles. Precisamos nos perguntar qual destino estamos dando a tantas riquezas e qual Brasil queremos deixar para as gerações futuras.

Nesse começo do 3º milênio, somos uma população de mais de 200 milhões de brasileiros, 80% vivendo em cidades. O impacto dessa concentração populacional sobre o meio ambiente produz dilemas que põem em risco as riquezas naturais. O avanço das tecnologias em todos os campos, tende a distanciar as pessoas dos problemas socioambientais que estão ao seu redor. Os povos que perderam seus territórios, tantas vezes dados por extintos, reivindicam seu lugar na sociedade, sua cidadania, com a prerrogativa de viverem conforme suas leis e suas tradições, sendo plenamente reconhecidos como brasileiros. Além do mais, pertencemos a uma mesma casa comum, condividindo esse planeta com sete bilhões de pessoas e bilhões e bilhões de seres vivos. Somos cidadãos globais. Esse fato implica que a tensão entre a economia e a ecologia se colocou como o maior desafio para a humanidade. É de sua equação harmônica que depende o futuro da humanidade e de todos os seres vivos que habitam a Terra.

O Papa Francisco, no início de sua carta encíclica Laudato Sí, diz que escolheu o nome de Francisco também por razões ecológicas. A proposta ecológica do Papa é integral, entrelaçando todas as dimensões do ser humano com a natureza. Para ele, cada criatura tem sua mensagem, que precisa ser respeitada e entendida. Mas todas elas estão interligadas. Toda a Laudato Sí é um hino de espanto maravilhado diante da natureza criada que nos fala de Deus, que é um dom de Deus, da qual nós seres humanos somos parte integrante, mas também seus zeladores e cultivadores. O Papa Francisco também nos coloca diante dos desafios colossais enfrentados pela humanidade, que está em uma verdadeira encruzilhada, em uma mudança de época.

A Igreja Católica já há algum tempo tem sido uma voz profética a respeito da questão ecológica. Não apenas tem chamado a atenção para os desafios e problemas ecológicos, como tem apontado suas causas e, principalmente, tem apontado caminhos para sua superação. As Igrejas particulares, Comunidades Eclesiais de Base, Pastorais Sociais, Semanas Sociais Brasileiras, Fóruns das Pastorais Sociais, o Grito dos Excluídos, muito se aproximaram do nosso povo para defender seus direitos e para promover a convivência harmônica com o meio ambiente em todo o Brasil.

Vamos, então, de forma simples, abordar cada um de nossos biomas, com seus respectivos povos, sua situação atual, procurar entender suas características e problemas fundamentais. À luz da fé, nos interrogaremos sobre o significado dos desafios apresentados pela situação atual dos biomas e dos povos que neles vivem. No agir, abordaremos as principais iniciativas já existentes para manutenção de nossa riqueza natural básica. Apontaremos propostas sobre o que podemos e devemos fazer em respeito à criação que Deus nos deu para “cultivá-la e guardá-la”.

Fonte: Redação