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Do Sofrimento Nasce a Esperança - XXIIICG

em 04/10/2014 | 00h00min

Do Sofrimento Nasce a Esperança - XXIIICGEnquanto os trabalhos de estudo e de reflexão para as Capitulares continuam, a mente e o coração estão voltados às comunidades das Filhas de Maria Auxiliadora  espalhadas pelo mundo e às populações que vivem situações de conflito e de violência.

A guerra, o cerco da cidade e as dificuldades não são impedimentos para nossas Irmãs do Oriente Médio manterem viva a esperança de um futuro melhor, porque o desejo que têm de viver em plenitude e em proximidade com o povo são mais  fortes do que o medo de morrer.

Por isso, entrevistamos a Inspetora Ir. ABOU NAOUM Lina, da Inspetoria do Oriente Médio “Jesus Adolescente” (MOR) para ajudar-nos a entender um pouco mais a situação atual.

O Oriente Médio vive os anos mais dramáticos da sua história. O que é descrito como “a primavera árabe” mostrou-se logo como o “inverno apocalíptico!”. A invasão do Iraque  em 2003, deu lugar a desequilíbrios em toda a Região. As revoluções contra regimes totalitários e tirânicos, em nome de uma democracia importada, colocou muitas nações árabes de joelhos, criando o caos: Tunísia, Egito, Líbia, Sudão, até alcançar a Síria e agora o Líbano... Outras nações como a Jordânia, a Arábia Saudita, o Irã, a Turquia permanecem em perigo. Isto, sem esquecer a tensão árabe-israelense e apontando mais de perto a situação palestino-israelense que remonta à primeira diáspora de 1943, à segunda de 1967 e assim por diante relatando a história de um povo palestino sempre mais “sem terra”. Além da situação do povo israelense que tenta, com todos os meios, recriar as glórias do Antigo Testamento.

A expansão do Islã fundamentalista “wahabita” e o “salafismo”, surgidos na Arábia Saudita, deram forma a um Califado com Abu Bakr al-Baghdadi que tenta unir-se em uma grande aliança sunita. O termo “Califa”, que significa “sucessor de Maomé”, exprime a ideia de que o mundo islâmico está orientado para o  passado. É óbvio portanto que o fundamentalismo religioso nada tem a ver com o retorno à fé! Por outro lado, a célebre “meia-lua xiita”, eixo que liga o Irã dos Aiatolás xiitas, o Hezbollah (partido armado xiita do Líbano), com os Alawita do regime na Síria, constituem a outra força armada islâmica, que se opõe aos fundamentalistas sunitas. Ambos são responsáveis por esta tensão entre os componentes do Islã em nível de mundo árabe.

Enquanto nos continentes da Europa e da América constatamos um processo de descristianização, juntamente com o secularismo imperante que abre as portas ao pluralismo às vezes ateu ou “crente solitário”, no Islã parece prevalecer o fundamentalismo e a não aceitação de alguma interpretação pluralista do Corão.

Não é fácil entender em que direção evolui a crise atual. O que surpreende hoje é uma trágica cena de assassinatos em massa, de deslocamentos, de fugas, juntamente com o surgimento de grupos de forças rebeldes, sem guias sábios, sem ideologias construtivas. Multiplicam-se os guerrilheiros da desgraça, que se aproveitam do caos, do momento trágico, para enriquecer-se, dominar cidades inteiras e estabelecer-se no território. Todos, não sem a cumplicidade das potências econômicas e políticas que oferecem armas, ganham mercados, consagram o conflito e, por trás dos bastidores, dividem entre si o espólio!                                                                    

Nós lhe perguntamos: E as nossas comunidades fma? Como vivem e demonstram a sua proximidade com o povo nesta situação?

Nós, FMA, presentes nas seis nações envolvidas pelas tensões, fomos tocadas de perto pelo fechamento – esperamos temporário– da nossa missão de Aleppo na Síria! Uma decisão que fez sofrer muitas de nós constrangidas a aceitá-la com realismo e  com a esperança de uma reabertura em condições melhores, no final.

A Síria continua a ser a Nação mais abalada e em situação mais trágica. As Irmãs do Hospital e da escola de Damasco dedicam-se  totalmente e, ouso dizer, com heroísmo! Estão imersas em uma guerra angustiante, sem trégua, que se impõe com suas inesperadas e terríveis cenas de destruição e de morte. 

A Irmandade muçulmana hoje está sob a opressão da nova presidência dos militantes jihadistas do Estado islâmico (ISIS). E não se pode falar de uma trégua já conquistada! É uma esperança que, desejamos, venha a ser realizada por uma Nação  considerada o coração do antigo mundo árabe! As nossas Irmãs no Egito, que viveram todo o trabalho da queda dos dois regimes, Mubarak e Morsi, encorajam-se e permanecem na obra, para reavivar com os Egípcios a sua fé em uma terra que deseja reconquistar a paz.

O Líbano, que acolheu quase dois milhões de refugiados sírios e que viu outros palestinos se agregarem aos campos existentes – os eternos sonhadores de um possível retorno à Terra Santa – acolheu ultimamente os refugiados iraquianos de Musul e Karacosc, as cidades evacuadas onde a maioria é cristã. E eis que a paz da pequena Terra, que sempre foi politicamente dividida entre os seus componentes, encontra-se drasticamente comprometida! O exército libanês está em guerra com o ISIS e outros grupos fanáticos que semeiam o terror e a morte,  infiltrados na população.

 Do Líbano, da Palestina e da Terra Santa, do Egitto, da Síria ou da Jordânia, podem-se escrever páginas intermináveis de crimes, e a conclusão é uma: a paz está comprometida! Os refugiados são milhões, os mortos igualmente ... O medo e a insegurança são sentimentos comuns. Sem falar do empobrecimento em massa, do desemprego que cresce de modo assustador.

Nós acreditamos no amor, na convivência, no diálogo interreligioso, nas ‘sementes do Verbo’ presentes em cada religião, em cada Terra, em cada cultura. Sempre planejamos e educamos para a paz, o respeito recíproco, a convivência. E agora não queremos desistir. Estas são as nossas Terras, não vamos dar as costas para procurar outro lugar. Somos parte da nossa gente que sofre, que acredita em um mundo capaz de mudar, de acolher todos os seus filhos, cristãos e muçulmanos, uma única família humana.

“Não tenhais medo, eu venci o mundo!”: as palavras de Jesus Ressuscitado são a nossa força!

Fonte: Redação